7.10.12

Em mim embaraçada

Todo meu talento nato
Sucumbiu!
De mim foi arrancado
Uma árvore que só produz sombra
Fica amargurada
Por nada resplandecer.

Como um rio seco,
Um poeta sem palavras,
Um livro sem páginas
Ou até um falso amor.

Vivo eu em mim
Estrangulada
Pelas negras serpentes
Que sufocam tudo
que jaz aqui.

Então com que fim existo?

22.3.12

Poema Mórbido

Nem o espelho me reflete
O fogo não me queima
Minhas cinzas não são pó


Eu sou o seu maior temor
A escuridão no fim do túnel
Mesmo de uma vida em preto e branco


Ninguém me toca, me chama
Mas há alguns que já imploraram-me pelo fim de uma vida já sepultada.
De que adiantas morrer de uma inexistência?!


Eu sou o negro
O frio
Mais do que isso
Sou a morte
O fim.

29.1.12

KISSES ON THE BOTTOM!

"I'm really just some kid from Liverpool still"
Não se assuste com o título do post ... é que na iminência de chegar à casa dos 70, Sir James Paul McCartney decidiu criar mais um álbum que estou louca para ouvir. No entanto isso se tornou impraticável devido aos bloqueios dos sites de download e a demora para este produto chegar ao Brasil! Bom, chega de expor toda minha frustração e vamos aos motivos que me estimularam a escrever sobre essa mais nova preciosidade. "Kisses on the Bottom" é um trabalho em que o ex-beatle soltou sua voz e o indiscutível talento para interpretar clássicos do cancioneiro norte - americano que segundo ele sempre eram tocados no piano por seu pai. Portanto, em um repertório de 14 faixas - incluindo duas composições do próprio músico - já era de se esperar que iríamos nos deparar com canções já antes interpretadas por Dean Martin e Ella Fitzgerald por exemplo, porém agora com o auxílio de mestres contemporâneos como Stevie Wonder, a impecável Diana Krall e Clapton, que já havia esbanjado seu potencial na guitarra com os Beatles em "while my guitar gently weeps". Parece ser  um álbum que desperta um aconchego, daqueles de colocar para tocar segurando uma taça de vinho ao chegar do trabalho - aconselha Paul que coincidentemente ou não, o lançará estrategicamente(?) uma semana antes do Valetine's Day nos EUA, ou seja, dia sete deste mês. Com certeza será um disco nada inusitado, mas muito, muito atraente para os nossos ouvidos relaxarem e amarem mais ainda nosso querido Paul McCartney! Fica a dica.

Festa em Casa

Festa em casa só tem gente de casa. Poxa! Três horas faltavam e eu estava estagnada pensando na data que iria comemorar nesta noite com os amigos mais chegados, acanhados, mas atenciosos. Será? Será que é justo tudo isso? Planejar, comprar os preparativos, abusar do tempo de todos para vislumbrar minha passagem, sabe-se lá se foi só o tempo ou se por ventura eu realmente mudei. Dez, vinte, vinte e oito minutos se passaram. Minha dedicada mãe que a essa hora já estava de banho tomado, com os quitutes e o bolo, que ela mesma tivera preparado, no forno,  me gritou: "Acorda menina! O pessoal já bate na porta, vá se arrumar, colocar roupa nova, organizar a casa, você anda tão sem graça...ai! Eu e seu pai nos dedicamos tanto, vá ser feliz na vida!"
E eu que tinha tudo, perfume francês, álbum de viagem, cachecol feito pela avó. Pensava que estranho aquilo tudo era, só porque eu fazia 20 anos e mesmo frustrada devia estar alegre e bem vestida, com tudo no lugar? Tamanha aparência e falsa impressão, mas por bem ( ou mal de mim ) me movi e fui selecionar as músicas - um jazz, um rock instrumental, além de algo bem ímpar- isto me bastou. Bastou sim para que o primeiro convidado chegasse até que mais lugares da pequena sala foram sendo ocupados. O que tinha de decoração era apenas o que havia encontrado empoeirado em uma loja distante daqui, minha personagem preferida quando criança - a Rainha Desovada - que provocou graça nos olhos de quase todos que ainda riam sem querer.
Um olhava para o outro, duas meninas se juntaram e aquele ar sombrio e constrangedor de início de festa pairava no ar. Na tentativa de melhorar a situação, acabei dando conta de que a causa daquele mal estar era a música, "malfadada sou, não era mais fácil ter colocado algo mais..." comecei a falar antes de concluir, atropelando meu raciocínio como sempre. Virei o pescoço para dois garotos atrás e perguntei se eles preferiam um som mais conhecido ou dançante - uma vez que faziam comentários difamadores a respeito das minhas escolhas - "Tenho outros discos no quarto, querem ver?"- Que idiotisse, aquelas músicas que tocavam me agradavam tanto! - "Podemos escolher outros então?"- disse o mais baixo deles. Quando dei por mim, já um pouco tonta, disse "NÃO!" Aprendi a pouco dizer isto, é lindo, não?
Um CD repetido, uma camiseta de banda, a roupa da madrinha, o presente estrangeiro do tio, nada diferente, só papeis de embrulho - " Por qual motivo ninguém me escreveu nada?" - Cheguei a ficar com um nó na garganta e corri para o banheiro que estava trancado, me deparando com um amigo que, embreagado, me escreveu um verso no guardanapo. Li como se fosse o mais criativo cartão que já tivera ganhado e sorri como nunca nas últimas semanas. Ele não entendeu  e pediu para ver como era meu quarto, por lá passou toda a festa.
Eu dançava, sentava, recitava poemas, ouvia alguns gritos, algumas gargalhadas, barulho de copo se estilhaçando, vozes no meu ouvido, minha voz falando, eu caindo, tudo rodando e por fim eu acordando já com mais um ano completo, mas dessa vez sem planejar nada. -"Onde eu estava? Num poço de encanto?" Eu rodava como as crianças fazem até ficar vendo tudo ao meu redor se mexer e então, esborrachei no chão rindo, incrédula e lendo cada canto daquelas desconhecidas paredes que ora rimavam, ora faltavam, se completavam, ou não. Estava em meio a poesias, a versos de amor, de amigo, de primavera, que sempre tinham um espaço vazio, faltava uma rima, um sentido, mais que um artigo! Apenas uma palavra, aquela essencial para eu decifrar tudo,  de completa importância, insubstituível, algo ínfimo, porém mágico por sua simplicidade e tamanha eminência.
Pensei, desanimei, cheguei a encaixar algumas sugestões naqueles espaços, mas não soavam bem. Até que de repente fez-se um barulho em uma porta que mais parecia uma página de diário, era meu pai me chamando - "meu nome!" - ele era impecável em todos os versos.

17.1.12

Dá um tempo

Não deixe o tempo te domar, faça o melhor que puder com este...o tempo outrora é remédio, agora é tédio, mas a todo caso o considero o perigo da vida. Este que passa as vezes tão despercebido tem um enorme poder sobre nós. Ele tenta nos persuadir, o tempo passa e não passa de um... picareta! Quando estou mal ele vai de encontro a mim, deixa cada pedacinho meu corroendo aos poucos. Ahh! E quando preciso da sua ajuda, que grande falseta! Nunca confie,  ele mostra ser seu amigo no início, mas logo após você relaxar ele corre de você. O tempo é tão malvado que tenta determinar nossa vida a todo tempo, é quanto tempo disso, com esse tempo já fez isso, é pouco tempo, é tempo demais! Vem cá seu enxerido, deixa eu ao menos tomar conta do que eu sinto? Por isso venho dar um alerta: dome este infeliz, que não tem nada para fazer além de ficar tomando conta do tempo da vida de todo mundo.

15.1.12

PARA O PEQUENO PRÍNCIPE - uma crônica da Fernanda Young que li há um tempão e achei legal compartilhar aqui hoje.

Nossa, há quanto tempo… Como vão as coisas no seu pequeno planeta? Aqui, no meu, andam imensamente estranhas – muito baobá para pouca flor, se é que você entende meus simbolismos. Quem sempre fala de você é aquela ex-miss que vivia chorando por sua causa, lembra? Ela me contou da sua amizade com a Raposa. Príncipe, como você é meu amigo de infância, não posso deixar de alertá-lo. Cuidado com a Raposa. Ela parece uma coisa, mas é outra. Faz-se de fofa e é uma cobra, uma chantagista. Quando a conheci, ela disse que não podia conversar comigo, pois não sabia quem eu era. “A gente só conhece bem as coisas que cativou”, ela falou, toda insinuante. Respondi que, se nós duas nos cativássemos, ela ficaria triste quando eu fosse embora. Foi quando saquei que ela queria ter um cacho comigo, pois a Raposa pegou no meu cabelo – eu estava loira na época – e disse que tudo bem, porque ela olharia os campos de trigo e se lembraria de mim. Marcamos um encontro para o dia seguinte, às 4. E ela me pediu para chegar às 4 em ponto, dessa forma ela ficaria feliz desde as 3 somente por esperar o momento do nosso encontro. Achei estranho, mas pensei que fosse charme. Não era. Cheguei 15 minutos atrasada e a Raposa surtou. Falou que nós somos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos. E perguntou para mim, olhando diretamente nos meus olhos, se eu tinha consciência de que “perder tempo” com o outro é o que faz essa história importante. Percebeu o tom de chantagem? Ela joga na cara tudo o que faz em nome do outro. Ela deseja afeto, mas o quer como uma responsabilidade de mão única. Porém, também somos responsáveis quando nos deixamos cativar – relacionamentos são vias de mão dupla. A Raposa exige a certeza de um compromisso com hora marcada, impondo regras à troca afetiva. As regras dela, claro, já que ela quer todo o afeto a favor de seu bem-estar. Chega a ponto de dizer que será feliz porque você virá. Como se a felicidade fosse algo condicionado ao outro, à espera do outro, ao encontro com o outro. Veja que coisa infantil. São as crianças que precisam de horários certinhos e de associar suas emoções às pessoas com quem se relacionam. Sentindo prazer ou desprazer diante da ausência ou presença da mãe ou do pai ou de quem quer que seja. Na criança, ainda não há um universo interior, entendeu? Quando nós crescemos, temos de conseguir ver o mundo através das próprias perspectivas. Enxergar a beleza de um trigal sem nos lembrar de ninguém. A Raposa, como uma criança assustada, quer que aqueles que a amam estejam com ela na hora em que ela deseja. Achando que eles são “responsáveis” pela felicidade dela. Ou seja, o outro lhe deve algo por tê-la cativado. Desde esse dia, não falo mais com ela. E aconselho você a fazer o mesmo. Ela não é flor que se cheire.
Saudades distantes, Fernanda Young.