29.1.12

Festa em Casa

Festa em casa só tem gente de casa. Poxa! Três horas faltavam e eu estava estagnada pensando na data que iria comemorar nesta noite com os amigos mais chegados, acanhados, mas atenciosos. Será? Será que é justo tudo isso? Planejar, comprar os preparativos, abusar do tempo de todos para vislumbrar minha passagem, sabe-se lá se foi só o tempo ou se por ventura eu realmente mudei. Dez, vinte, vinte e oito minutos se passaram. Minha dedicada mãe que a essa hora já estava de banho tomado, com os quitutes e o bolo, que ela mesma tivera preparado, no forno,  me gritou: "Acorda menina! O pessoal já bate na porta, vá se arrumar, colocar roupa nova, organizar a casa, você anda tão sem graça...ai! Eu e seu pai nos dedicamos tanto, vá ser feliz na vida!"
E eu que tinha tudo, perfume francês, álbum de viagem, cachecol feito pela avó. Pensava que estranho aquilo tudo era, só porque eu fazia 20 anos e mesmo frustrada devia estar alegre e bem vestida, com tudo no lugar? Tamanha aparência e falsa impressão, mas por bem ( ou mal de mim ) me movi e fui selecionar as músicas - um jazz, um rock instrumental, além de algo bem ímpar- isto me bastou. Bastou sim para que o primeiro convidado chegasse até que mais lugares da pequena sala foram sendo ocupados. O que tinha de decoração era apenas o que havia encontrado empoeirado em uma loja distante daqui, minha personagem preferida quando criança - a Rainha Desovada - que provocou graça nos olhos de quase todos que ainda riam sem querer.
Um olhava para o outro, duas meninas se juntaram e aquele ar sombrio e constrangedor de início de festa pairava no ar. Na tentativa de melhorar a situação, acabei dando conta de que a causa daquele mal estar era a música, "malfadada sou, não era mais fácil ter colocado algo mais..." comecei a falar antes de concluir, atropelando meu raciocínio como sempre. Virei o pescoço para dois garotos atrás e perguntei se eles preferiam um som mais conhecido ou dançante - uma vez que faziam comentários difamadores a respeito das minhas escolhas - "Tenho outros discos no quarto, querem ver?"- Que idiotisse, aquelas músicas que tocavam me agradavam tanto! - "Podemos escolher outros então?"- disse o mais baixo deles. Quando dei por mim, já um pouco tonta, disse "NÃO!" Aprendi a pouco dizer isto, é lindo, não?
Um CD repetido, uma camiseta de banda, a roupa da madrinha, o presente estrangeiro do tio, nada diferente, só papeis de embrulho - " Por qual motivo ninguém me escreveu nada?" - Cheguei a ficar com um nó na garganta e corri para o banheiro que estava trancado, me deparando com um amigo que, embreagado, me escreveu um verso no guardanapo. Li como se fosse o mais criativo cartão que já tivera ganhado e sorri como nunca nas últimas semanas. Ele não entendeu  e pediu para ver como era meu quarto, por lá passou toda a festa.
Eu dançava, sentava, recitava poemas, ouvia alguns gritos, algumas gargalhadas, barulho de copo se estilhaçando, vozes no meu ouvido, minha voz falando, eu caindo, tudo rodando e por fim eu acordando já com mais um ano completo, mas dessa vez sem planejar nada. -"Onde eu estava? Num poço de encanto?" Eu rodava como as crianças fazem até ficar vendo tudo ao meu redor se mexer e então, esborrachei no chão rindo, incrédula e lendo cada canto daquelas desconhecidas paredes que ora rimavam, ora faltavam, se completavam, ou não. Estava em meio a poesias, a versos de amor, de amigo, de primavera, que sempre tinham um espaço vazio, faltava uma rima, um sentido, mais que um artigo! Apenas uma palavra, aquela essencial para eu decifrar tudo,  de completa importância, insubstituível, algo ínfimo, porém mágico por sua simplicidade e tamanha eminência.
Pensei, desanimei, cheguei a encaixar algumas sugestões naqueles espaços, mas não soavam bem. Até que de repente fez-se um barulho em uma porta que mais parecia uma página de diário, era meu pai me chamando - "meu nome!" - ele era impecável em todos os versos.

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